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Simpatias de São João

Nos dias 23 e 24 de junho, é comum que se faça em muitas regiões do Brasil as ditas Simpatias de São João, o santo festejado nessa época.
As festas juninas são comemoradas no mês de junho e têm uma relação direta com o catolicismo popular
As festas juninas são comemoradas no mês de junho e têm uma relação direta com o catolicismo popular

São João Batista é um dos santos mais prestigiados das festas juninas, ao lado de Santo Antônio de Pádua, de São Pedro e de São Paulo. João Batista, como é narrado nos Evangelhos, era um pregador do deserto que batizava as pessoas às margens do rio Jordão e foi o responsável por anunciar a vinda de Jesus Cristo como o salvador da humanidade. As histórias relacionadas com São João há muito tempo fazem parte da cultura popular católica, e muito elementos delas se encontram nas festas juninas, em especial no dia reservado para festejar esse santo: 24 de junho.

Na noite do dia 23 e no dia 24 de junho, era comum (e ainda é, a depender da região) nos sertões brasileiros realizar uma série de simpatias, aproveitando o dia da festa de São João. A maior parte dessas simpatias era de adivinhação, principalmente relacionada com o casamento.

A festa dedicada a São João Batista acontece no dia 24 de junho
A festa dedicada a São João Batista acontece no dia 24 de junho


Adivinhações relacionadas à fogueira

A fogueira é um dos elementos de mais destaque nas festas juninas e tem especial ligação com o dia de São João, pois foi por meio de uma fogueira que sua mãe, Santa Isabel, avisou Maria, mãe de Jesus, que o filho tinha nascido.

Muitos folcloristas brasileiros documentaram as práticas adivinhatórias relacionadas com a fogueira na noite do dia 23 para o dia 24 de junho. Entre esses folcloristas, está Câmara Cascudo, que, em seu livro Superstições no Brasil, diz o seguinte: Em noite de São João passa-se sobre a fogueira um copo contendo água, mete-se no copo sem que atinja a água um anel de aliança preso por um fio, e fica-se a segurar o fio; tantas são as pancadas dados no anel nas paredes do copo quantos os anos que o experimentado terá de esperar pelo casamento. (p. 148).

Além dessa simpatia do anel, há outra, desta vez acrescentando ovos à simpatia, colhida pelo mesmo Câmara Cascudo, mas dessa vez retirada da obra de outro pesquisador, J. M. Cardoso de Oliveira. Diz o texto: “As moças passavam em cruz sobre as brasas copos cheios d'água, dentro dos quais quebravam ovos, e iam expô-los ao sereno: de manhã os examinariam: e conforme às posições tomadas pela clara e a gema, formando mais ou menos aproximadamente uma igreja, um navio, uma joia, significariam: casamento, viagem, riqueza, e assim por diante”. (p. 149-150).

Esse tipo de adivinhação remonta às antigas consultas a oráculos, como ocorria nas culturas clássicas greco-romanas, e que acabaram sobrevivendo.


Adivinhações relacionadas com as refeições

Além das simpatias relacionadas com a fogueira, há também registro de outras associadas às refeições, que, segundo Cascudo, são do tipo “que mais preocupa a mocidade em noites de São João”. Uma das variações dessas simpatias está relacionada com o sonho. Veja:

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Uma pequena mesa, forrada com uma toalha bem limpa, com talheres, pratos e copos para duas pessoas. Duas velas acesas à cabeceira da mesa, junto da qual fica a cama, onde deve dormir a pessoa que faz a adivinhação. O que tiver de suceder aparecerá em sonho, cujo cenário é a mesa. Quando a moça, que faz a adivinhação, tiver que se casar, aparecerá à mesa, fazendo refeição ao lado do noivo.” (p. 151).

Outra variação é narrada pelo Barão de Studart, folclorista cearense, também citado por Câmara Cascudo em Superstições no Brasil. Diz o barão:

[…] no dia de São João deve a jovem guardar um bocado de todo alimento que tomar nas diversas refeições, arranjando, assim, um pratinho é posto sobre a mesa. Indo deitar-se, sonhará a moça com o homem com que um dia se deverá unir pelo matrimônio. E verá distintamente o rosto do rapaz, de maneira a reconhecê-lo, mais tarde no seu prometido.” (p. 151).

Para Cascudo, esse tipo de adivinhação tem origem na milenar prática de oferta de alimento aos deuses, comum tanto às culturas europeias e asiáticas quanto a algumas das culturas originárias da América e da África.


Simpatias relacionadas com o espelho e com nomes

Outro tipo de simpatia muito comum nas festas de São João diz respeito a olhar-se no espelho à meia-noite do dia 23 de junho. Se a pessoa não ver seu reflexo, é porque morrerá antes do próximo dia de São João. Há variações dessa simpatia com a substituição do espelho por uma bacia com água, na qual a pessoa deve tentar ver sua imagem à luz das chamas da fogueira.

Há também a simpatia feita para que se descubra o primeiro nome do homem com que a moça deverá casar-se. Diz Cascudo que: “Põe-se água na boca por detrás duma porta. Ou numa janela. O primeiro nome de homem que for ouvido é justamente o nome do futuro marido. Coloca-se moeda da fogueira e pela manhã, retirando-a do braseiro dá-se de esmola ao primeiro pedinte. Pergunta-se o nome. Coincidirá com o do futuro noivo”. (p. 153).

Nessa prática de querer saber o nome do marido, Câmara Cascudo enxerga reminiscências do culto antigo ao deus Hermes, o deus mensageiro dos gregos, como fica explicado na passagem abaixo:

Ter as vozes da rua como resposta a uma consulta feita mentalmente é uma reminiscência do oráculo do deus Hermes em Acaia. Consultavam ao deus, com muitas orações, e dizia-se a pergunta ao ouvido do ídolo. Depois o consulente cobria a cabeça com um manto e deixava o templo. No adro, retirava o manto da cabeça e as primeiros palavras que ouvisse era a resposta de Hermes, a solução enviada pelo deus nas vozes do acaso.” (p. 153).

Publicado por Cláudio Fernandes

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