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Tratado de Versalhes

O Tratado de Versalhes foi assinado em 1919 como um dos acordos de paz firmados após a Primeira Guerra Mundial. Ficou conhecido pela imposição de condições rigorosas à Alemanha.
Representantes de Reino Unido, França e Itália durante a Conferência de Paz de Paris, que produziu o Tratado de Versalhes.
Representantes de Reino Unido, França e Itália durante a Conferência de Paz de Paris, que produziu o Tratado de Versalhes. [1]

O Tratado de Versalhes foi o mais famoso dos tratados de paz assinados após a Primeira Guerra Mundial. Nele, ingleses e franceses impuseram os termos da rendição alemã no dia 28 de junho de 1919 após longos meses de deliberações. Esse tratado foi entendido pelos historiadores como extremamente rígido e contribuiu para arrastar a Alemanha para uma crise econômica e política.

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Primeira Guerra Mundial

O Tratado de Versalhes foi um de vários acordos de paz assinados após a Primeira Guerra Mundial. Esse conflito estendeu-se de 1914 a 1918 e resultou na morte de 10 milhões de pessoas, além de uma gigantesca destruição material nos países que se envolveram com nele.

A Primeira Guerra Mundial foi resultado de um mundo em transformação e causada por uma série de fatores bastante complexos, como as disputas econômicas travadas entre as grandes potências, as disputas territoriais (incluindo os interesses por colônias), o revanchismo por acontecimentos passados e os movimentos nacionalistas.

Em meio a esse cenário de tensão — conhecido como Paz Armada —, os países europeus começaram a investir na produção de armamentos e na formação de alianças militares. Dentro desse clima, era necessário apenas um estopim para que toda a animosidade represada fosse liberada, e isso acabou acontecendo em 28 de junho de 1914.

Nesse dia, o arquiduque e herdeiro do trono austríaco Francisco Ferdinando foi alvo de um atentado terrorista durante uma carreata nas ruas de Sarajevo. O atentado foi realizado por um estudante, Gavrilo Princip, membro de um movimento nacionalista local. As motivações que o levaram a assassinar o arquiduque e a sua esposa estão inseridas dentro do nacionalismo local e sua luta por emancipação em relação à Áustria-Hungria.

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Esse atentado deu início a uma crise diplomática, uma vez que os austríacos foram exigir satisfação dos sérvios pelo ato. Essa tensão ficou conhecida como Crise de Julho e resultou na declaração de guerra da Áustria contra a Sérvia em 29 de julho de 1914. Isso desencadeou um efeito dominó que arrastou grande parte da Europa para o combate.

Os dois lados que lutaram na Primeira Guerra Mundial foram:

  • Tríplice Entente: Reino Unido, França, Rússia e Itália;

  • Potências Centrais: Império Alemão, Império Otomano, Império Austro-Húngaro.

Ao longo de quatro anos, a Primeira Guerra possuiu duas grandes fases, sendo a Guerra de Movimento (de agosto a novembro de 1914) a primeira dessas. A segunda foi a mais extensa e a mais conhecida faceta desse grande combate: a Guerra de Trincheiras, que se estendeu do final de 1914 até o fim do conflito.

As batalhas da Primeira Guerra Mundial foram extremamente violentas e, pelo uso das trincheiras, resultaram em poucos avanços territoriais. Após anos de conflito, as nações envolvidas estavam exauridas, sobretudo as Potências Centrais. No final de 1918, a Alemanha viu-se isolada na luta e à beira do colapso.

Uma revolução aconteceu na Alemanha, derrubou a monarquia do país e negociou um armísticio com britânicos e franceses em 11 de novembro de 1918. Depois desse armísticio, os vencedores do conflito reuniram-se para negociar os termos da rendição dos alemães. Uma consequência imediata foi a ocupação da Renânia, região da fronteira da Alemanha com a Bélgica e França. Para saber mais sobre a Primeira Guerra, leia: Primeira Guerra Mundial | Tudo sobre essa guerra global!

Saiba também: A vida nas trincheiras da Primeira Guerra Mundial

Conferência de Paz de Paris

Woodrow Wilson (com o chapéu na mão), presidente americano que esteve envolvido nas negociações que aconteceram na Conferência de Paz de Paris.
Woodrow Wilson (com o chapéu na mão), presidente americano que esteve envolvido nas negociações que aconteceram na Conferência de Paz de Paris.

Apesar do armísticio assinado em novembro de 1918, o Tratado de Versalhes só foi ratificado em junho de 1919. Nesse período, o documento estava sendo elaborado, e esse trabalho foi iniciado com a Conferência de Paz de Paris, que se iniciou em 18 de janeiro de 1919. Essa conferência teve um grupo conhecido como Quatro Grandes: Estados Unidos, Reino Unido, França e Itália.

O Japão foi uma quinta força nessa conferência, mas o país pouco se envolveu nas questões relativas ao Tratado de Versalhes. Os italianos também tiveram pouco envolvimento depois que suas exigências territoriais não foram atendidas. Assim, os maiores envolvidos no resultado do tratado foram norte-americanos, britânicos e franceses.

Ao todo, 25 países estiveram envolvidos com o Tratado de Versalhes:

  • Estados Unidos

  • Reino de Hejaz (atualmente parte da Arábia Saudita)

  • Reino Unido

  • Honduras

  • França

  • Libéria

  • Itália

  • Nicarágua

  • Japão

  • Panamá

  • Bélgica

  • Peru

  • Bolívia

  • Polônia

  • Brasil

  • Portugal

  • China

  • Romênia

  • Cuba

  • Reino dos Sérvios, Croatas e Eslovenos

  • Equador

  • Sião (atual Tailândia)

  • Grécia

  • Checoslováquia (atuais Tchéquia e Eslováquia)

  • Guatemala

  • Uruguai

  • Haiti

Os grandes líderes que estiveram envolvidos com as negociações que elaboraram o Tratado de Versalhes foram Woodrow Wilson, presidente dos Estados Unidos; Georges Clemenceau, primeiro-ministro francês; David Lloyd George, primeiro-ministro britânico; e Vittorio Emanuele Orlando, primeiro-ministro italiano. Esse último retirou-se da conferência, pela rejeição dos desejos territoriais italianos.

A Conferência de Paz de Paris ficou marcada pelo turbilhão de interesses colocados à mesa pelos grandes envolvidos na Primeira Guerra. Italianos e japoneses eram entendidos como potências menores, não tiveram seus interesses atendidos e afastaram-se das negociações, e os russos não participaram do evento.

Entre janeiro e junho, franceses, britânicos e norte-americanos negociaram extensamente sobre as punições que seriam impostas aos alemães. Houve muita divergência de interesses entre britânicos e franceses, mas o elemento fundamental para ambos era impor a justiça para a Alemanha. Na visão de ambos, os alemães eram os causadores da guerra e, por isso, eles deveriam ser responsabilizados.

Ao final foi elaborado um documento que possuía 15 partes e 440 artigos, além de contar com anexos. O resultado foi controverso e causa polêmica até hoje. Os franceses acharam os termos do tratado muito brandos, enquanto que os ingleses acharam-nos muito severos. Os alemães entenderam o tratado como uma grande afronta e sentiram-se humilhados.

Acesse também: O que foi a Comuna de Paris?

Principais imposições do Tratado de Versalhes

Como mencionado, os termos do tratado foram duríssimos, e o documento foi imposto unilateralmente para os alemães, uma vez que o país não teve direito de participar da Conferência de Paz de Paris. Os termos do tratado foram tão duros que a comitiva alemã protestou imediatamente após ter conhecimento deles.

O chanceler alemão, Philipp Scheidemann, recusou-se a assinar o tratado e renunciou ao seu cargo. Isso fez o governo alemão reunir-se para tomar uma decisão. A aceitação alemã deu-se quando Johannes Bell e Hermann Müller, dois membros do governo alemão, ratificaram o tratado por meio de assinatura.

A decisão mais importante do documento constava nos artigos 231 e 232. O artigo 231 declarava que a Alemanha reconhecia ser a única responsável por ter causado a guerra. Assim todos os prejuízos que foram resultados do embate, dentro do tratado, eram culpa dela, uma vez que deu início às hostilidades.

O artigo 232, por sua vez, exigia que a Alemanha fosse responsável por indenizar os países aliados (Reino Unido e França) por todas os prejuízos, embora esses reconhecessem que os alemães não ti condições financeiras para isso. Outras determinações importantes do Tratado de Versalhes foram:

→ Imposições territoriais

Os alemães sofreram inúmeras punições territoriais com o Tratado de Versalhes. A começar pelas colônias alemãs, que foram todas repassadas a ingleses ou franceses. Além de perderem suas colônias, os alemães tiveram de:

  • Devolver a Alsácia-Lorena para a França. Os alemães haviam conquistado essa região dos franceses na Guerra Franco-Prussiana;

  • Entregar Eupen, Malmédy e Moresnet para os belgas;

  • Entregar Sarre ao domínio internacional e permitir que os franceses explorassem as minhas de carvão daquela região;

  • Aceitar que parte de seus territórios orientais fosse tomada, dando origem à Polônia;

  • Aceitar que Danzig passasse para o domínio internacional;

  • Entregar Memel à Lituânia;

  • Entregar Schleswig à Dinamarca.

→ Outras imposições

Outras imposições que os alemães tiveram de aceitar foram: a proibição de possuírem marinha e aviação de guerra; possuírem artilharia pesada; promoverem o recrutamento militar; e terem um exército com mais de 100 mil soldados. Por fim, a Renânia, na fronteira da Alemanha com Bélgica e França, seria desmilitarizada permanentemente.

A última das determinações à Alemanha refere-se à indenização de guerra. Foi determinado o pagamento de 20 bilhões de marcos-ouro, mas, pouco tempo depois, franceses e ingleses estavam exigindo mais de 200 bilhões de marcos-ouro dos alemães. A cobrança desses valores foi um dos pontos mais controversos do tratado.

Durante as negociações, norte-americanos e até alguns ingleses defenderam a ideia de que a indenização paga pelos alemães não poderia ser severa demais. Os primeiros, particularmente, preocupavam-se que a imposição de duros termos aos alemães pudesse empurrar a Alemanha ao caminho da xenofobia ou do comunismo.

Consequências do Tratado de Versalhes

O Tratado de Versalhes teve inúmeras consequências. Ele foi recebido na Alemanha com desacato e foi considerado uma afronta ao país. As principais consequências desse documento histórico foram:

  • Instalação de uma forte crise econômica que se arrastou na Alemanha até meados da década de 1930 e foi responsável por uma crise de hiperinflação;

  • Crise na política que marcou a República de Weimar;

  • Surgimento de grupos paramilitares com ideais radicais;

  • Fortalecimento de teorias conspiratórias;

  • Fortalecimento do autoritarismo que resultou no surgimento do Partido Nazista.

Créditos de imagem

[1] Everett Historical e Shutterstock

Publicado por Daniel Neves Silva
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