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José de Alencar

José de Alencar foi um escritor brasileiro atuante no século XIX, um dos principais nomes da literatura de sua época. Foi também orador, político, advogado e crítico. Seu trabalho literário tinha como horizonte a consolidação de uma tradição cultural brasileira, o que o levou a escrever romances ambientados em diversas paisagens e períodos históricos. Pensador de grande influência, é patrono da cadeira n. 23 da Academia Brasileira de Letras, por escolha de Machado de Assis.

Saiba mais: Joaquim Manuel de Macedo: o primeiro romancista romântico brasileiro

Biografia de José de Alencar

Natural de Messejana (CE), José Martiniano de Alencar nasceu em 1829, com o mesmo nome de seu pai, que era padre, senador e foi duas vezes presidente da província do Ceará. Homem de influência, o pai de José de Alencar era correligionário do padre Diogo Feijó e participou ativamente do movimento de emancipação de D. Pedro II.

José de Alencar foi o maior autor de romances românticos do Brasil.
José de Alencar foi o maior autor de romances românticos do Brasil.

Alencar estudou na Faculdade de Direito do Largo São Francisco, em São Paulo. Morou no Rio de Janeiro, onde exerceu a profissão de jornalista, tornando-se chefe de redação no Diário do Rio de Janeiro. Escreveu crônicas e críticas literárias. Foi um dos principais expoentes da prosa romântica brasileira, tendo escrito diversos romances entre 1856 e 1893, além de contribuir também para a dramaturgia.

Atuou na política, elegendo-se deputado representante da província do Ceará por três vezes consecutivas, além de Ministro da Justiça no período entre 1868 e 1870. Foi eleito senador, mas teve a posse impedida por D. Pedro II por tê-lo criticado em cartas políticas abertas. José de Alencar faleceu prematuramente em 12 de dezembro de 1877, aos 48 anos, vítima de tuberculose.

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Escola literária de José de Alencar

O autor pertence ao movimento do romantismo brasileiro, que se consolidou principalmente entre as décadas de 1840 e 1870.  José de Alencar fez parte da 1ª geração de românticos no Brasil, sendo o maior nome da prosa indianista, temática de cunho nacionalista, que recebe o nome pela idealização da figura do indígena, tratada como herói nacional.

Das características do romantismo, talvez a que mais influenciou José de Alencar tenha sido essa tentativa de criar uma tradição cultural brasileira, embasada principalmente nos romances indianistas e históricos, que, respectivamente, heroicizavam os primeiros habitantes do Brasil e recontavam o passado nacional.

A forma do romance, firmada pelo movimento romântico, constitui a maior parte da obra de Alencar. Além dos indianistas e históricos, foi autor também de romances urbanos, que se passavam sobretudo na corte carioca, e regionalistas, em localidades nas províncias brasileiras.

Fazem parte do estilo de Alencar as temáticas românticas de idealização do herói e do sentimento amoroso, bem como as narrativas subjetivas, centradas na percepção que o indivíduo possui do mundo, e a exaltação da natureza, principalmente enquanto paisagem nacional por excelência.

Leia também: Linguagem literária: a linguagem com trato artístico

Características das obras de José de Alencar

  • Predomínio de textos em prosa, sobretudo na forma do romance;
  • Ufanismo e nacionalismo;
  • Orientada à formação de uma tradição cultural brasileira;
  • Dividida em períodos: indianista, urbano, regionalista e histórico;
  • Crítica de costumes, principalmente da hipocrisia moral burguesa;
  • Multiplicidade de paisagens geográficas;
  • Diversidade de períodos históricos contemplados.

Romances de José de Alencar

Alencar foi autor de mais de 20 romances, com os quais se ocupou das questões históricas e de seu tempo. De narrativas ufanistas e que recontam a chegada dos portugueses até a modernização do Rio de Janeiro, o autor abordou temas rurais e urbanos. Seus romances ambientam-se em diversas localidades do Brasil, da corte à província, e por isso são aglutinadas em três tipos: urbano, indianista e histórico.

  • Romances urbanos

Muitas vezes escritos de acordo com o padrão dos folhetins, os romances urbanos de Alencar narram a vida da alta sociedade do Segundo Império e suas intrigas amorosas. Fazem referências a logradouros e espaços de convívio, retratando de maneira fidedigna os espaços físicos do período. Suas grandes protagonistas são mulheres, fato que se verifica já nos títulos de alguns de seus livros e que o diferencia de diversos outros autores do período, principalmente pela abordagem aprofundada do conflito psicológico das personagens femininas.

Nos romances urbanos de Alencar, a trama desenvolve-se na direção do esclarecimento da intriga e da revelação dos segredos; e os finais, embora geralmente felizes, também conduzem à certa crítica das hipocrisias sociais que acometiam a burguesia brasileira do período, revelando as mazelas da desigualdade social, a ambição e a degradação moral por causa do dinheiro.

São romances urbanos de Alencar: Cinco minutos (1856), A viuvinha (1857), Lucíola (1862), Diva (1864), A pata da gazela (1870), Senhora (1875), Sonhos d’ouro (1872) e Encarnação (1893).

Destaca-se a obra Lucíola, de 1862, narrativa que se passa no Rio de Janeiro, centrada na vida de Lúcia, nome adotado por Maria da Glória ao ingressar na prostituição. A trama conta o envolvimento de Lúcia com Paulo, que se apaixona por ela. O relacionamento dos dois é permeado pelos estigmas sociais do meretrício, impedimento que Paulo aponta para não realizar a união matrimonial.

No prólogo intitulado “Ao autor”, Alencar explica o título:

Lucíola é o lampiro noturno que brilha de uma luz tão viva no seio da treva e à beira dos charcos. Não será a imagem verdadeira da mulher que no abismo da perdição conserva a pureza d’alma?”

Sobressai-se também o romance Senhora, de 1875, protagonizado por Aurélia Camargo, filha de uma costureira pobre e noiva de Fernando Seixas, rapaz belo e elegante, preocupado com a sua própria questão social e com a obrigação de ajudar a mãe e a irmã. Caça-dotes, Fernando abandona Aurélia ao encontrar na alta sociedade Adelaide, partido de melhor posição financeira.

Arrasada, Aurélia resigna-se à pobreza e à solidão, maldizendo Fernando. O revés do destino, contudo, faz com que Aurélia receba uma enorme herança, e ela planeja, então, sua vingança: a de comprar de volta o noivo. A moça pobre, meiga, transforma-se em uma mulher altiva e calculista.

Ela ganha a negociação, e os dois vivem um casamento de aparências, repleto de tensão amorosa, ironias e discussões. Seixas junta o montante para comprar de volta a sua liberdade, ação que redime as duas personagens, posto que, sem a troca monetária, Aurélia acaba por declarar-se apaixonadamente ao marido.

  • Romances indianistas

São protagonizados por figuras de indígenas heroicizados, “bons selvagens”, em oposição ao homem branco corrompido pela civilização. Representantes da grandeza da pátria, os índios de Alencar têm caráter mítico e são símbolos da bondade e da valentia. Têm papel relevante também as descrições das paisagens naturais, geralmente em consonância com o sentimento predominante nas personagens.

A tríade de romances indianistas de José de Alencar é composta pelas publicações O guarani (1857), Iracema (1865) e Ubirajara (1874), entre as quais as duas primeiras são tidas como principais.

Em O guarani, Alencar consolida a ideia de herói nacional no índio Peri, que salva Cecília, moça branca filha de D. Antonio. Peri apaixona-se por Cecília (Ceci, como ele a apelida) em uma idealização das relações estabelecidas entre os brancos colonizadores e os primeiros habitantes do Brasil.

Iracema, por Antonio Parreiras, 1909. [1]
Iracema, por Antonio Parreiras, 1909. [1]

O tema da mestiçagem é presente também na paixão de Isabel por Álvaro, que, por sua vez, só se interessa por Cecília. A história de Peri e Ceci consolida, na literatura, o projeto de Alencar de concepção de uma identidade nacional, embasada na união do branco com o indígena.

Iracema é talvez o mais famoso dos romances de Alencar. Nele, a “virgem dos lábios de mel”, como o autor descreve a índia Iracema, entrega-se apaixonadamente a Martim, rapaz português, de origem fidalga e fenótipo alourado, bastante europeu.

Ele, por sua vez, é o arquétipo do aventureiro, desbravador das terras desconhecidas, sempre envolvido em tratados e alianças territoriais a serviço de Portugal. Membros de culturas diferentes, o romance evoca essa eterna distância. Considerado um poema em forma de prosa, Iracema tem linguagem ritmada e repleta de metáforas relacionadas às paisagens em redor.

  • Romances históricos

Nestes, Alencar pretendia solidificar a construção do passado nacional. As narrativas são voltadas ao período colonial, à exploração do ouro e aos movimentos de entradas e bandeiras. São romances históricos do autor as publicações: As minas de prata (1862/1865) e Guerra dos mascates (1871/1873).

O mais conhecido de seus romances históricos é As minas de prata, com três edições entre os anos de 1862 e 1865. Ambientada no ano de 1609, a trama parte do roteiro em direção às lendárias minas de prata, buscadas por portugueses, espanhóis, holandeses, brasileiros e jesuítas.

De inspiração romanesca da temática da busca pelo tesouro, essa obra destrincha os procedimentos da administração colonial e, novamente, desvela a degradação humana causada pela ambição e pelo poder do dinheiro.

  • Romances regionalistas

Os romances regionalistas abordam os costumes típicos de cada região brasileira, intentando dar um panorama da cultura nacional com base em suas particularidades. São ambientados no meio rural e trazem elementos folclóricos, características geográficas e influências econômicas. São eles: O gaúcho (1870), O tronco do ipê (1871), O sertanejo (1875) e Til (1872), dois quais este último é o mais conhecido.

Ambientado em uma fazenda do interior paulista a partir do ano de 1826, Til é também o apelido da protagonista Berta, típica heroína romântica. De ar bondoso e afável, utiliza-se de sua influência para manipular pessoas e situações a seu bel prazer. A trama central desenvolve-se em torno das origens familiares de Berta, cuja mãe havia sido estrangulada pelo marido quando este descobriu que ela engravidara de outro homem. Aborda como temas a economia e a escravidão. Retrata sobretudo os valores e comportamentos tradicionais do Brasil longe dos centros urbanos.

Acesse também: Gêneros literários: divisão aristotélica dos textos da literatura

Textos dramáticos de José de Alencar

José de Alencar produziu ainda consistente obra dramatúrgica, inspirado pela comédia realista do francês Alexandre Dumas Filho e pela insatisfação com a produção teatral do passado brasileiro. Propunha levar à cena debates a respeito dos costumes burgueses, em busca de direcionar o espectador para determinados valores éticos da burguesia que deveriam conduzir o modo de vida dessa classe.

As peças de Alencar são, predominantemente, comédias de costumes e dramas cáusticos, com denúncias explícitas da falsa moralidade burguesa, tendo algumas obras sido censuradas pelo Conservatório Dramático — como é o caso de As asas de um anjo, em que a protagonista Carolina vai de moça de família à prostituta e chega até mesmo a sofrer o assédio do próprio pai bêbado.

Fachada do Theatro José de Alencar. Patrimônio histórico tombado, o principal teatro de Fortaleza (CE) homenageia o autor.
Fachada do Theatro José de Alencar. Patrimônio histórico tombado, o principal teatro de Fortaleza (CE) homenageia o autor.

A carreira de Alencar como dramaturgo oscilou entre momentos de glória e de grande desaprovação do público. Muitas de suas cenas escandalizaram a plateia da época, não acostumada à influência da estética realista e recatada em seu próprio moralismo hipócrita.

Produção dramatúrgica: O demônio familiar (1857), Verso e reverso (1857), O crédito (1857), As asas de um anjo (1858), Mãe, (1860), A noite de São João (1860), O que é o casamento (1862), A expiação (1867) e O jesuíta (1875).

Textos políticos de José de Alencar

José de Alencar era filho de pai político e exerceu ele mesmo essa carreira. Escreveu tratados, ensaios, discursos, artigos de jornais, cartas políticas, entre outros, sendo grande polemista em sua época. Como intelectual renomado, as ideias do autor tiveram influência na formação do pensamento brasileiro.

Destacam-se principalmente as publicações das Cartas de Erasmo, escritas entre 1865 e 1868, sob o pseudônimo de Erasmo. São cartas abertas destinadas a D. Pedro II. Versam críticas ao imperador, pautadas na crise social e financeira que acometia o país na década de 1860, com as tensões entre conservadores e liberais, com o declínio imperial ante o saldo da Guerra do Paraguai, conflito mais longo do que se imaginava que seria, e com as acusações frequentes de falseamento das instituições e corrupção das camadas políticas dirigentes.

Nesse compilado, que possui ao todo sete cartas, encontram-se a apologia de uma política externa “pacífica”, gerando também a ideia de que o povo brasileiro é um povo pacífico, e a polêmica “Carta a favor da escravidão”, em que defende abertamente a manutenção do sistema escravista, elencando teorias racialistas e principalmente econômicas para embasar seu argumento. Sendo o próprio Alencar um latifundiário, via-se que argumentava (também) a seu próprio favor.

Crédito de imagem

[1] Antônio Parreiras (Domínio Público)/ Commons

Publicado por Luiza Brandino
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