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O que é poema?

O poema é um gênero textual que pode ser escrito conforme rígidas normas — os poemas de forma fixa — ou em versos livres, nos quais mais valem as imagens do que a métrica.
O poema, enquanto gênero textual, apresenta características que possibilitam identificá-lo entre os demais gêneros
O poema, enquanto gênero textual, apresenta características que possibilitam identificá-lo entre os demais gêneros

Afinal, o que é o poema? A poesia, como expressão da arte, pode ser definida?

O poema é um gênero textual relacionado com os gêneros literários. É impossível dissociar o poema da literatura, arte que tem a palavra como matéria-prima. Na literatura não há compromisso com a objetividade, tampouco com a sintaxe ou com a semântica. A palavra pode ser lapidada, dissecada, subvertida de acordo com as vontades de quem escreve o poema para assim atingir seu principal fim: impressionar o leitor e nele despertar diferentes sensações.

Embora seja difícil conceituar a poesia, elemento da subjetividade presente nas mais variadas manifestações artísticas, é possível estabelecer parâmetros que nos ajudem a compreender o poema como gênero textual e suas características formais e estilísticas. Como gênero, o poema apresenta algumas peculiaridades que o diferem dos demais gêneros, peculiaridades essas que facilitam sua identificação. Mas se engana quem acredita que todo poema é composto por versos e estrofes: há poemas em prosa, bem como poemas que aliam elementos visuais à linguagem verbal, contrariando assim a ideia de que o poema deve prender-se a regras como métrica ou rimas.

Chão de outono

Ao longo das pedras irregulares do calçamento passam ventando umas pobres folhas amarelas em pânico, perseguidas de perto por um convite-deenterro, sinistro, tatalando, aos pulos, cada vez mais perto, as duas asas tarjadas de negro!

(Prosa poética de Mario Quintana, do livro “Sapato florido”)

Normal, do livro Palavra desordem, de Arnaldo Antunes. Arnaldo é um dos principais representantes da poesia concreta brasileira
Normal
, do livro Palavra desordem, de Arnaldo Antunes. Arnaldo é um dos principais representantes da poesia concreta brasileira

amar é um elo
entre o azul
e o amarelo

(Haicai de Paulo Leminski)

NEL MEZZO DEL CAMIN...

Cheguei. Chegaste. Vinhas fatigada
E triste, e triste e fatigado eu vinha.
Tinhas a alma de sonhos povoada,
E a alma de sonhos povoada eu tinha...

E paramos de súbito na estrada
Da vida: longos anos, presa à minha
A tua mão, a vista deslumbrada
Tive da luz que teu olhar continha.

Hoje, segues de novo... Na partida
Nem o pranto os teus olhos umedece,
Nem te comove a dor da despedida.

E eu, solitário, volto a face, e tremo,
Vendo o teu vulto que desaparece
Na extrema curva do caminho extremo.

(Soneto de Olavo Bilac)

A palavra poema deriva do verbo grego poein, que significa “fazer, criar, compor”. É inquestionável a importância da literatura grega, bem como sua influência nas composições literárias posteriores. Na Grécia Antiga, os gêneros literários – gêneros épico, lírico e dramático – eram todos considerados poemas. Entre esses textos inaugurais estão os poemas de Homero nas obras Odisseia e Ilíada, os primeiros grandes textos épicos da cultura ocidental. Na literatura contemporânea, os poemas de formas fixas, como o soneto e a sextina, cederam espaço para formas menos convencionais ou nada convencionais (vide os poemas concretos), que abandonaram a métrica e adotaram o verso livre, nos quais a palavra e seus significados são o substrato do poema.

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Ausência

Por muito tempo achei que a ausência é falta.
E lastimava, ignorante, a falta.
Hoje não a lastimo.
Não há falta na ausência.
A ausência é um estar em mim.
E sinto-a, branca, tão pegada, aconchegada nos meus braços,
que rio e danço e invento exclamações alegres,
porque a ausência, essa ausência assimilada,
ninguém a rouba mais de mim.

(Carlos Drummond de Andrade)

O poema é, portanto, um gênero textual que apresenta delimitações, tal qual os demais gêneros do universo literário, como o conto e a crônica. Mas para a poesia (que pode estar contida ou não no poema, haja vista que nem todo poema é dotado de lirismo e beleza) não existem limites, por isso, faz-se importante salientar as diferenças entre o poema e a poesia. Em não raras situações um texto poético esbarra na compreensão de seu leitor, que pode subaproveitar suas imagens, sua musicalidade e suas metáforas. Por isso, a poesia depende da percepção de quem lê um poema, de quem observa uma pintura, de quem ouve uma música ou assiste a uma peça de teatro ou a um filme. Diferente do poema, que existe enquanto gênero textual, a poesia só existe se percebida – e sentida – pelo receptor.

O que dizer de uma frase assim: a poesia existe para satisfazer a necessidade de poesia dos poetas? Escândalo, loucura e anátema! […] Poeta não é só quem faz poesia. É também quem tem sensibilidade para entender e curtir poesia. Mesmo que nunca tenha arriscado um verso. Quem não tem senso de humor, nunca vai entender a piada. E concluo: – Tem que ter tanta poesia no receptor quanto no emissor. […] Saúde a vocês que fazem, saúde a vocês que curtem, polos magnéticos por onde passa a faísca da poesia.

Paulo Leminski

Publicado por Luana Castro Alves Perez

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