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Intertextualidade explícita e implícita

A intertextualidade é um elemento muito importante para o processo de construção de sentidos do texto, ocorrendo de maneira explícita ou implícita.
A intertextualidade é um processo que pode ser construído de maneira implícita ou explícita, exigindo maior ou menor análise por parte do leitor
A intertextualidade é um processo que pode ser construído de maneira implícita ou explícita, exigindo maior ou menor análise por parte do leitor

Afinal, o que é intertextualidade?

Antes de falarmos sobre os tipos de intertexto, é importante que façamos uma breve análise sobre o conceito de intertextualidade. Podemos dizer, basicamente, que a intertextualidade nada mais é do que a influência de um texto sobre outro. Todo texto, em maior ou menor grau, é um intertexto, pois é normal que durante o processo da escrita aconteçam relações dialógicas entre o que estamos escrevendo e outros textos previamente lidos por nós. A intertextualidade pode acontecer de maneira proposital ou não, mas é certo que cada texto faz parte de uma corrente de produções verbais e, conscientemente ou não, retomamos, ou contestamos, os chamados textos-fonte, fundamentais na memória coletiva de uma sociedade. Posto isso, passemos à análise dos tipos de intertextualidade.

A intertextualidade pode ser construída de maneira explícita ou implícita. Na intertextualidade explícita, ficam claras as fontes nas quais o texto baseou-se e acontece, obrigatoriamente, de maneira intencional. Pode ser encontrada em textos do tipo resumo, resenhas, citações e traduções. Podemos dizer que, por nos fornecer diversos elementos que nos remetem a um texto-fonte, a intertextualidade explícita exige de nós mais compreensão do que dedução. Observe os exemplos:

Poema de sete faces

Quando nasci, um anjo torto
desses que vivem na sombra
disse: Vai, Carlos! ser gauche na vida.

As casas espiam os homens
que correm atrás de mulheres.
A tarde talvez fosse azul,
não houvesse tantos desejos.

O bonde passa cheio de pernas:
pernas brancas pretas amarelas.
Para que tanta perna, meu Deus, pergunta meu coração.
Porém meus olhos
não perguntam nada.

O homem atrás do bigode
é sério, simples e forte.
Quase não conversa.
Tem poucos, raros amigos
o homem atrás dos óculos e do bigode.

Meu Deus, por que me abandonaste
se sabias que eu não era Deus,
se sabias que eu era fraco.

Mundo mundo vasto mundo
se eu me chamasse Raimundo
seria uma rima, não seria uma solução.
Mundo mundo vasto mundo,
mais vasto é meu coração.

Eu não devia te dizer
mas essa lua
mas esse conhaque
botam a gente comovido como o diabo.

Carlos Drummond de Andrade

Até o fim

Quando nasci veio um anjo safado
O chato do querubim
E decretou que eu estava predestinado
A ser errado assim
Já de saída a minha estrada entortou
Mas vou até o fim
"inda" garoto deixei de ir à escola
Cassaram meu boletim
Não sou ladrão, eu não sou bom de bola
Nem posso ouvir clarim
Um bom futuro é o que jamais me esperou
Mas vou até o fim
Eu bem que tenho ensaiado um progresso
Virei cantor de festim
Mamãe contou que eu faço um bruto sucesso
Em quixeramobim
Não sei como o maracatu começou
Mas vou até o fim
Por conta de umas questões paralelas
Quebraram meu bandolim
Não querem mais ouvir as minhas mazelas
E a minha voz chinfrim
Criei barriga, a minha mula empacou
Mas vou até o fim
Não tem cigarro acabou minha renda
Deu praga no meu capim
Minha mulher fugiu com o dono da venda
O que será de mim ?
Eu já nem lembro "pronde" mesmo que eu vou
Mas vou até o fim
Como já disse era um anjo safado
O chato dum querubim
Que decretou que eu estava predestinado
A ser todo ruim
Já de saída a minha estrada entortou
Mas vou até o fim

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Chico Buarque de Holanda

É possível observar, após a leitura dos dois textos, que o poema de Drummond serviu de texto-fonte para a música de Chico Buarque, pois há uma referência explícita aos versos do poeta, sobretudo no início da canção.

A intertextualidade implícita demanda de nós um pouco mais de atenção e análise. Como o próprio nome diz, esse tipo de intertexto não se encontra na superfície textual, visto que não fornece para o leitor elementos que possam ser imediatamente relacionados com algum outro tipo de texto-fonte. Sendo assim, pedem de nós uma maior capacidade de realizar analogias e inferências, fazendo com que o leitor reative conhecimentos preservados em sua memória para então compreender integralmente o texto lido. A intertextualidade implícita é muito comum em textos parodísticos, irônicos e em apropriações. Observe o exemplo:

Hora do mergulho

feche a porta, esqueça o barulho
feche os olhos, tome ar: é hora do mergulho

eu sou moço, seu moço, e o poço não é tão fundo
super-homem não supera a superfície
nós mortais viemos do fundo
eu sou velho, meu velho, tão velho quanto o mundo

eu quero paz:
uma trégua do lilás-neon-Las Vegas
profundidade: 20.000 léguas
"se queres paz, te prepara para a guerra"
"se não queres nada, descansa em paz"
"luz" - pediu o poeta
(últimas palavras, lucidez completa)
depois: silêncio

esqueça a luz... respire o fundo
eu sou um déspota esclarecido
nessa escura e profunda mediocracia.

Engenheiros do Hawaii

Na letra da canção há uma referência a um famoso provérbio latino: si uis pacem, para bellum, cuja tradução é Se queres paz, te prepara para a guerra, exemplificando, assim, aquilo que chamamos de intertextualidade implícita, pois não foi feita a citação do texto-fonte. 

Publicado por Luana Castro Alves Perez
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